FONTE : Blog Encantes
A arte social de Carlo Cury
Eu tive contato com as obras do artista plástico e arte educador, Carlo Cury, por acaso. Se é que acasos existem.
Foi durante a Exposição “Coisas do Mar", do Grupo Ubuntu, do qual ele faz parte junto com as ceramistas Cláudia Canova Passos e Maria Pinheiro Zandoná, que aconteceu no Departamento de Patrimônio Histórico, em São Sebastião.
A exposição retratava os hábitos e costumes dos antigos caiçaras, como a arte de prosear, pescar e fazer artesanatos. Eu me encantei.
Por isso, quando a diretora de Patrimônio Histórico, Rosangela Dias Ressurreição, me convidou para a Exposição “Maria – Mãe de Todos”, com obras de Carlo Cury, eu não podia recusar.
A exposição foi aberta no Dia de Nossa Senhora Aparecida, logo após a missa e procissão em homenagem à santa.
Eu esperei o público diminuir para me aproximar de Carlo Cury e, após uma conversa rápida e amistosa, marcamos essa entrevista.
Cury, além de muito talentoso, é uma pessoa do bem. Ele desenvolve um trabalho de ensino gratuito de arte a alunos de escola pública de Caraguatatuba e também junto ao povo Krahô, em Tocantins.
Eu apresento a você, leitor, um artista que viaja o mundo para conhecer povos e culturas diferentes e depois transforma a sua experiência em obras de arte.
Encantes – Como a cerâmica surgiu na sua vida? Com quem você aprendeu as técnicas?
Carlo Cury - A cerâmica entrou na minha vida a partir de um vídeo que relatava os fazeres nessa modalidade de arte, abordando os ceramistas em atividade em Caraguatatuba, onde já estava morando.
Depois fiz um curso com o Mestre Ben Hur Vernizzi, que me passou a técnica de modelagem e o processo de queima. Com a ceramista Marcia D'Amico fiz um curso de torno. Como aprimoramento e pesquisa para o projeto Origens - fase 2 Nativos, surgiram vários cursos, desde de reconstituição arqueológica no Núcleo de Arqueologia de Jacareí até a modelagem de cerâmica tapajônica e marajoara em Santarém, no Pará, com os mestres Lucivaldo e Ronaldo Marques, discípulos do Mestre Isauro, responsável pelo resgate da cultura tapajônica. Também participei de cursos de cerâmica no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, onde os próprios indígenas aplicaram os fazeres na tradição de cada etnia. Mesmo em férias na Costa Rica, fiz uma vivência em cerâmica Chorotega com o mestre Miguel Leal Vega, no povoado de Guaetil.
Na Costa Rica, conhecemos os instrumentos sonoros denominados Ocarinas que são tradicionais na América Central. Então, procurei os mestres Esteban Valdivia e Carolina Segre com quem vivenciei o curso "Sonidos de América".
Para a esmaltação, tenho feito cursos específicos com Lu Leão e, mais recentemente, tenho tido oficinas de arte sacra barroca com o mestre Wandecok Cavalcante.
Encantes – Qual é a inspiração para produzir as suas peças e quanto tempo elas demoram a ficarem prontas?
Carlo Cury - Tenho o hábito de produzir por projetos e então as temática abordadas acabam sendo a inspiração, como, por exemplo, o projeto Origens que fala dos negros, índios e caiçaras, o projeto de Arte Sacra, que me remete à infância na cidade de Piraju. Além disso, produzo peças utilitárias (pratos, travessas, bules, xícaras, vasos) e nestes o meio ambiente é minha maior fonte de inspiração, introduzindo figuras da natureza (plantas, peixes, etc).
O tempo de confecção é muito variado, pois depende do tipo de peça que se pretende fazer, das condições de clima (dia mais seco ou mais úmido) e também do número de queimas que a peça será submetida. Normalmente, a peça depois de seca, é queimada a uma temperatura que não ultrapassa 1.000 graus célsius, sendo conhecida como queima de biscoito. Depois, a peça pode ser esmaltada ou pintada com engobe e submetida a outra queima, que pode chegar a 1240 ºC. Normalmente, as peças demoram 3 dias para esfriar dentro do forno após a queima.
Encantes – É fácil encontrar o material para confeccionar as suas peças no Litoral Norte?
Carlo Cury - A argila não é encontrada na região. Tenho adquirido o barro em Cunha e em São Paulo.
Encantes – Onde você comercializa as peças?
Carlo Cury - As peças são comercializadas no próprio Ateliê, no Museu de Arte de Caraguatatuba, na Loja Sulaiman e Sulaiman (de Manaus - AM), por encomendas e também na página do facebook "Carlo Cury Cerâmica". Sistematicamente, realizamos queimas e convidamos o público para a abertura do forno, o que sempre revela surpresas pois cada queima é única. Nestas ocasiões também se faz a comercialização das peças, ainda mornas. É um momento muito agradável.
Encantes – Existe alguma peça ou exposição feita por você que mais te encantou?
Carlo Cury - Sem dúvida, a exposição do Projeto Origens Fase 2 - Nativos foi muito rica, em termos de pesquisa (vivências em museus e aldeias da região e do Norte do Brasil), bem como do material produzido pelos artistas participantes, que integram o Grupo Ubuntu Caraguá-Ceramistas. Atualmente, estou com a exposição Maria Mãe de Todos, no Museu de Arte Sacra de São Sebastião, que também está sendo muito prazerosa.
Encantes – Há pouco tempo, você participou de um projeto junto ao povo Krahô, em Tocantins. Como foi essa experiência?
Carlo Cury - Eu havia feito o curso Sonidos de América em 2015 e, em 2016, fui com o fotógrafo Renato Soares para uma vivência sobre fotografia na aldeia Santa Cruz do povo Krahô, localizada no município de Itacajá, TO. Lá ofereci à presidente da Associação dos Krahô, a índia Maria José Capé, repassar o curso dos sonidos, já que este povo é muito musical, mas não tem a cultura da cerâmica.
Então, em setembro deste ano, convidei a ceramista Claudia Canova Passos para auxiliar na empreitada e também o amigo Claudio Dias para fazer o registro fotográfico.
Foi muito gratificante a experiência sendo aplicada a crianças, jovens e adultos, e ficamos impressionados com as habilidades dos fazeres em cerâmica desse povo. Estes apitos podem se traduzir em mais uma fonte de renda na venda de artesanato. Então mostraram interesse em apreender a fazer panelas de barro e nos solicitaram que lhes ensinassem. Assim, em 2017 pretendemos voltar à aldeia para esta nova vivência. O dono de uma olaria na cidade se prontificou a fornecer tijolos para o forno e argila para as peças. Já estamos ansiosos.
Encantes – Na sua opinião a arte deve ter um papel social mais atuante? Pretende participar de outros projetos sociais?
Carlo Cury - Acredito que a arte tanto reflete a história do momento em que é produzida, como também pode influenciar a própria história, ao retratar situações vividas.
Como arte educador já desenvolvo um trabalho de ensino gratuito de arte a alunos de escola pública de Caraguatatuba. São selecionados alunos com aptidão artística para pintura e o tema abordado no curso é o meio ambiente.
Acho que sempre estarei envolvido socialmente de alguma forma com meu trabalho.
Encantes - Deixe uma mensagem para os leitores do Blog Encantes.
Carlo Cury – “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagerou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.” Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Eu tive contato com as obras do artista plástico e arte educador, Carlo Cury, por acaso. Se é que acasos existem.
Foi durante a Exposição “Coisas do Mar", do Grupo Ubuntu, do qual ele faz parte junto com as ceramistas Cláudia Canova Passos e Maria Pinheiro Zandoná, que aconteceu no Departamento de Patrimônio Histórico, em São Sebastião.
A exposição retratava os hábitos e costumes dos antigos caiçaras, como a arte de prosear, pescar e fazer artesanatos. Eu me encantei.
Por isso, quando a diretora de Patrimônio Histórico, Rosangela Dias Ressurreição, me convidou para a Exposição “Maria – Mãe de Todos”, com obras de Carlo Cury, eu não podia recusar.
A exposição foi aberta no Dia de Nossa Senhora Aparecida, logo após a missa e procissão em homenagem à santa.
Eu esperei o público diminuir para me aproximar de Carlo Cury e, após uma conversa rápida e amistosa, marcamos essa entrevista.
Cury, além de muito talentoso, é uma pessoa do bem. Ele desenvolve um trabalho de ensino gratuito de arte a alunos de escola pública de Caraguatatuba e também junto ao povo Krahô, em Tocantins.
Eu apresento a você, leitor, um artista que viaja o mundo para conhecer povos e culturas diferentes e depois transforma a sua experiência em obras de arte.
Encantes – Como a cerâmica surgiu na sua vida? Com quem você aprendeu as técnicas?
Carlo Cury - A cerâmica entrou na minha vida a partir de um vídeo que relatava os fazeres nessa modalidade de arte, abordando os ceramistas em atividade em Caraguatatuba, onde já estava morando.
Depois fiz um curso com o Mestre Ben Hur Vernizzi, que me passou a técnica de modelagem e o processo de queima. Com a ceramista Marcia D'Amico fiz um curso de torno. Como aprimoramento e pesquisa para o projeto Origens - fase 2 Nativos, surgiram vários cursos, desde de reconstituição arqueológica no Núcleo de Arqueologia de Jacareí até a modelagem de cerâmica tapajônica e marajoara em Santarém, no Pará, com os mestres Lucivaldo e Ronaldo Marques, discípulos do Mestre Isauro, responsável pelo resgate da cultura tapajônica. Também participei de cursos de cerâmica no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, onde os próprios indígenas aplicaram os fazeres na tradição de cada etnia. Mesmo em férias na Costa Rica, fiz uma vivência em cerâmica Chorotega com o mestre Miguel Leal Vega, no povoado de Guaetil.
Na Costa Rica, conhecemos os instrumentos sonoros denominados Ocarinas que são tradicionais na América Central. Então, procurei os mestres Esteban Valdivia e Carolina Segre com quem vivenciei o curso "Sonidos de América".
Para a esmaltação, tenho feito cursos específicos com Lu Leão e, mais recentemente, tenho tido oficinas de arte sacra barroca com o mestre Wandecok Cavalcante.
Encantes – Qual é a inspiração para produzir as suas peças e quanto tempo elas demoram a ficarem prontas?
Carlo Cury - Tenho o hábito de produzir por projetos e então as temática abordadas acabam sendo a inspiração, como, por exemplo, o projeto Origens que fala dos negros, índios e caiçaras, o projeto de Arte Sacra, que me remete à infância na cidade de Piraju. Além disso, produzo peças utilitárias (pratos, travessas, bules, xícaras, vasos) e nestes o meio ambiente é minha maior fonte de inspiração, introduzindo figuras da natureza (plantas, peixes, etc).
O tempo de confecção é muito variado, pois depende do tipo de peça que se pretende fazer, das condições de clima (dia mais seco ou mais úmido) e também do número de queimas que a peça será submetida. Normalmente, a peça depois de seca, é queimada a uma temperatura que não ultrapassa 1.000 graus célsius, sendo conhecida como queima de biscoito. Depois, a peça pode ser esmaltada ou pintada com engobe e submetida a outra queima, que pode chegar a 1240 ºC. Normalmente, as peças demoram 3 dias para esfriar dentro do forno após a queima.
Encantes – É fácil encontrar o material para confeccionar as suas peças no Litoral Norte?
Carlo Cury - A argila não é encontrada na região. Tenho adquirido o barro em Cunha e em São Paulo.
Encantes – Onde você comercializa as peças?
Carlo Cury - As peças são comercializadas no próprio Ateliê, no Museu de Arte de Caraguatatuba, na Loja Sulaiman e Sulaiman (de Manaus - AM), por encomendas e também na página do facebook "Carlo Cury Cerâmica". Sistematicamente, realizamos queimas e convidamos o público para a abertura do forno, o que sempre revela surpresas pois cada queima é única. Nestas ocasiões também se faz a comercialização das peças, ainda mornas. É um momento muito agradável.
Encantes – Existe alguma peça ou exposição feita por você que mais te encantou?
Carlo Cury - Sem dúvida, a exposição do Projeto Origens Fase 2 - Nativos foi muito rica, em termos de pesquisa (vivências em museus e aldeias da região e do Norte do Brasil), bem como do material produzido pelos artistas participantes, que integram o Grupo Ubuntu Caraguá-Ceramistas. Atualmente, estou com a exposição Maria Mãe de Todos, no Museu de Arte Sacra de São Sebastião, que também está sendo muito prazerosa.
Encantes – Há pouco tempo, você participou de um projeto junto ao povo Krahô, em Tocantins. Como foi essa experiência?
Carlo Cury - Eu havia feito o curso Sonidos de América em 2015 e, em 2016, fui com o fotógrafo Renato Soares para uma vivência sobre fotografia na aldeia Santa Cruz do povo Krahô, localizada no município de Itacajá, TO. Lá ofereci à presidente da Associação dos Krahô, a índia Maria José Capé, repassar o curso dos sonidos, já que este povo é muito musical, mas não tem a cultura da cerâmica.
Então, em setembro deste ano, convidei a ceramista Claudia Canova Passos para auxiliar na empreitada e também o amigo Claudio Dias para fazer o registro fotográfico.
Foi muito gratificante a experiência sendo aplicada a crianças, jovens e adultos, e ficamos impressionados com as habilidades dos fazeres em cerâmica desse povo. Estes apitos podem se traduzir em mais uma fonte de renda na venda de artesanato. Então mostraram interesse em apreender a fazer panelas de barro e nos solicitaram que lhes ensinassem. Assim, em 2017 pretendemos voltar à aldeia para esta nova vivência. O dono de uma olaria na cidade se prontificou a fornecer tijolos para o forno e argila para as peças. Já estamos ansiosos.
Encantes – Na sua opinião a arte deve ter um papel social mais atuante? Pretende participar de outros projetos sociais?
Carlo Cury - Acredito que a arte tanto reflete a história do momento em que é produzida, como também pode influenciar a própria história, ao retratar situações vividas.
Como arte educador já desenvolvo um trabalho de ensino gratuito de arte a alunos de escola pública de Caraguatatuba. São selecionados alunos com aptidão artística para pintura e o tema abordado no curso é o meio ambiente.
Acho que sempre estarei envolvido socialmente de alguma forma com meu trabalho.
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Carlo Cury – “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagerou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.” Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
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